Terminado o serviço, pedreiros e serventes ficavam por ali mesmo; trabalhavam num condomínio fechado, longe da cidade, e só voltavam para casa nos fins de semana. De banho tomado, acendiam um fogo para preparar a janta, e ficavam conversando. Tiãozinho sempre tinha uma história para contar:
-Eu gosto demais de caçar, aprendi com meu pai. Já fazia muito tempo que eu não saía para uma caçada, então, mês passado, quando fui lá na roça ver minha mãe, resolvi aproveitar a ocasião.
- Mas caçar agora é proibido.
- E eu não sei? Mas pensei “aparecer fiscal do IBAMA aqui nesse fim de mundo? É nunca!” Cheguei num dia, no outro já fui pegando a espingarda velha que foi do meu pai, e saí bem cedinho.
Andei bastante, matando a saudade daqueles lugares da minha infância. Lá pelas tantas, com um tiro só, matei uma capivara pequena. Resolvi então voltar para casa. Pus a espingarda num ombro, o bicho no outro, e fui andando pela trilha, feliz da vida.
Pois não é que, numa curva do caminho, dou de cara com um guarda florestal? Gelei. “E agora, como saio dessa?” – pensei.
O guarda veio andando em minha direção, com a cara satisfeita de quem pega ladrão com a mão na cumbuca:
- Muito bonito, heim? - ele falou.
- Não é mesmo? – eu respondi, fazendo-me de desentendido. Mas bonito mesmo é o filhote de tatu que eu também peguei, deixei ali atrás, não dei conta de carregar os dois bichos ao mesmo tempo; toma conta aqui pra mim enquanto eu vou lá buscar.
Fui colocando no chão a espingarda e a capivara bem direitinho, uma ao lado da outra; fiz um sinal para que o guarda esperasse. Dei meia volta e fui andando de volta para a mata, sem me apressar para que o guarda não percebesse que eu já ia fugindo. Só quando eu ouvi um “ei, parado aí!” foi que comecei a correr, e quando eu corro ninguém me pega – ainda mais que eu conheço aqueles lugares todos como a palma da minha mão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário