"Dunga será técnico de € 6 milhões", diz empresário
Antonio Caliendo admite ao iG que clubes italianos já o procuraram, mas afirma que não fará nenhum negócio antes do fim do Mundial
Qual será o futuro de Dunga após a Copa do Mundo? Ao ouvir a pergunta, Antonio Caliendo aproxima a mão direita ao ouvido e, unindo e separando o polegar dos outros quatro dedos, imita uma boca falante. “Tem muita coisa sendo dita. O certo é que muita gente me procurou para saber dele, mas o Dunga não me autorizou a fazer nenhuma negociação até o final da Copa do Mundo. Ele está muito focado no Mundial e não quer saber de negócios até lá”, revela o empresário do técnico da seleção brasileira.
Desde os 19 anos, Dunga trabalha com o agente italiano
Cuidar dos negócios de Dunga é justamente o trabalho desse italiano de 66 anos, idade que tenta disfarçar com os cabelos pintados e ternos elegantes. Caliendo esteve no Brasil no último final de semana e conversou com o iG em São Paulo.
Segundo o agente, a vinda ao país não teve a ver com nenhum assunto relacionado ao técnico da seleção brasileira. O italiano, que já foi um dos maiores empresários de futebol do planeta, tem no currículo negócios como as transferências de Dunga, Müller, Renato Gaúcho e Sócrates para a Itália, além da conturbada ida de Roberto Baggio da Fiorentina para o Juventus.
“Trabalho com o Dunga desde que ele tinha 19 anos. Acompanhei toda a carreira dele como jogador profissional e agora como técnico. Ele sempre foi um vencedor e mostrou que está sendo assim também como treinador”, afirma.
O agente não poupa elogios ao técnico e justifica dizendo que Dunga assumiu a seleção brasileira sem nenhuma experiência e hoje é apontado como um dos favoritos para a conquista da Copa do Mundo, desempenho que o coloca como um dos nomes mais cotados para assumir grandes equipes européias, principalmente as italianas. Dunga virou o sonho de consumo de qualquer empresário do futebol.
Caliendo admite que alguns clubes já o procuraram para saber a situação do seu cliente. Nega, entretanto, que qualquer negociação aconteça antes do final da Copa do Mundo. O agente planeja desembarcar na África do Sul para assistir à semifinal do torneio. Aposta que os comandados de Dunga estarão na disputa até lá.
Sem acreditar na seleção do seu país, o italiano aponta um duelo entre Brasil e Inglaterra como a final mais provável. Segundo o empresário, isso acontecendo, Dunga entraria em outro patamar como treinador: ”Após o Mundial, ele será um técnico de € 6 milhões anuais”, afirma. O valor é mais de seis vezes o que Dunga recebe hoje da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
O número 1 da Itália
Quando Dunga conheceu Antonio Caliendo, em 1983, o empresário já era um dos maiores do ramo na Itália. Seis anos antes, ele havia trocado a profissão de vendedor de enciclopédias para agenciar a carreira do meia Giancarlo Antognoni, da Fiorentina. O ano era 1977 e o empresário, na época com 33 anos, se transformava no primeiro procurador de jogadores da Itália.
Na final da Copa do Mundo de 1990, dos 22 jogadores em campo, Antonio Caliendo representava 12
Na década de 80, o futebol na “Velha Bota” concentrava os melhores jogadores do planeta. Caliendo, que tinha sido o primeiro, já não era o único a trabalhar nos negócios da bola, mas estava envolvido nas maiores transações. Da ida de Maradona para o Napoli, passando pela chegada do também argentino Daniel Passarela à Europa e pelas compras dos brasileiros Aldair, Müller, Renato Gaúcho e Sócrates por clubes italianos, tudo passava pelo empresário, que representou cerca de 140 atletas.
O domínio do agente chegou ao ápice em 1990, quando a Copa do Mundo foi disputada na Itália. Na final do torneio, entre Argentina e Alemanha, 12 dos 22 jogadores que iniciaram a partida eram seus clientes.
No mesmo ano, Caliendo se envolveu no negócio mais polêmico de sua carreira. Roberto Baggio era um ídolo na Fiorentina e despertava o interesse de outros clubes italianos. Caliendo negociou uma transferência para a Juventus, principal rival da Fiorentina, sem o atacante saber. Com a proposta em mãos, ouviu um não de Baggio. “Ele virou para mim e disse: nem pensar. Os torcedores da Fiorentina vão me matar. Alias, eles vão me matar e te matar também”, lembra. Mas a proposta de aproximadamente US$ 19 milhões falou mais alto, e o atacante trocou Florença por Turim.
Em 1991, funcionários do Fisco italiano invadiram o escritório do agente, na Itália. Acusado de evasão fiscal, Caliendo ficou preso por 10 meses. O escândalo diminuiu a influência do empresário no futebol italiano. Mesmo assim, na Copa dos Estados Unidos, ele viu dois de seus jogadores disputarem a final e a honra de levantar o troféu: os capitães de Brasil e Itália, Dunga e Baggio, eram seus clientes.
Hoje, além do técnico da seleção brasileira, o empresário representa o atacante francês Trezeguet, o lateral Maicon, da Internazionale, e o meia Ederson, do Lyon. No Brasil, ele cuida da carreira do atacante Roni, que está no time sub-20 do São Paulo. “Antigamente, eu chegava aqui e tinha um mercado para explorar, com muitos jogadores. Hoje, parece que têm mais agentes que atletas. São duas raposas para cuidar de cada ovelha”, conta.
Com a experiência de quem fez alguns dos maiores negócios do futebol mundial e esteve envolvido em grandes polêmicas também, Caliendo tem como meta agora colocar Dunga entre os dez técnicos mais bem pagos do mundo. Antes disso, o ex-volante terá que repetir 1994. Desta vez, como técnico.
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