
Por Celso Unzelte, colunista do Yahoo! Esportes
Faltando menos de dois meses para o início da Copa na África do Sul, estreamos três histórias sobre o da Suíça, em 1954:
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Em Lausanne, Brasil e Iugoslávia empatavam por 1 a 1. Naquele grupo, o 1, também estavam França e México, que se enfrentavam no mesmo dia e horário em Genebra (a França acabaria vencendo por 3 a 2). O Brasil havia estreado goleando o México por 5 a 0. A Iugoslávia, fazendo 1 a 0 na França. Mas já se sabia que, por força do confuso regulamento, não haveria nem o jogo entre os dois times considerados mais fortes (Brasil e França) nem entre os dois mais fracos (México e Iugoslávia). Outra pérola do regulamento da Copa de 1954, não por acaso jamais repetida em outros Mundiais: por incrível que pareça, naquela Copa, todo jogo que terminasse empatado tinha que ir para uma prorrogação de 30 minutos. Pior: se o empate persistisse, não aconteceria rigorosamente nada. Por isso, aquele 1 a 1 classificava tanto brasileiros quanto iugoslavos.
Nossos craques, porém, pareciam não saber disso. Tanto que nos minutos finais do tempo normal, e mesmo durante parte da prorrogação, continuaram bombardeando o gol da Iugoslávia, em busca da vitória. Foi um custo para os pobres iugoslavos, na base dos gestos pedindo "calma, calma", fazerem os brasileiros entender que o empate já classificava as duas seleções. O que, no final, acabou acontecendo.
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Uns dizem que a famosa frase foi proferida pelo locutor paulista Geraldo José de Almeida, fato que é veementemente negado por seu filho, o também locutor Luiz Alfredo. Outros, a atribuem ao ministro João Lyra Filho, chefe da delegação brasileira na Suíça, ou, ainda, a Adelchi Ziller, jornalista mineiro que posteriormente tornou-se o maior historiador do Clube Atlético Mineiro e que estava presente na Suíça. O fato é que antes do jogo eliminatório contra a Hungria, pelas quartas de final, que não por acaso entrou para a história com o nome de "Batalha de Berna", o clima na seleção brasileira era muito, muito pesado.
De um lado, estava o fantasma húngaro, o time de Puskas, invicto havia quatro anos. Do outro, o Brasil, com fama de amarelar nas decisões, como havia acontecido quatro anos antes, na final da Copa de 50, em casa, diante do Uruguai. Por isso, antes daquela partida decisiva, não faltaram discursos para mexer com o brio dos jogadores. Foi em um desses discursos, justamente o que é historicamente atribuído a três pessoas diferentes - Geraldo José de Almeida, João Lyra e Adelchi Ziller -, que alguém, seja lá quem for, teria dito: "Craques do Brasil, vocês têm hoje que vingar nossos mortos de Pistoia". Pistoia é a cidade italiana onde estão enterrados os cerca de 450 brasileiros que morreram lutando contra a Alemanha na Segunda Guerra Mundial. A Hungria, que não tinha nada a ver com aquela história, ganhou do Brasil por 4 a 2, e seguiu em frente na Copa.
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Na final, a Alemanha Ocidental derrotou surpreendentemente a Hungria por 3 a 2 e sagrou-se campeã. Uma história fielmente retratada no filme alemão O Milagre de Berna (Das Wunder Von Bern) , de 2003. Ou melhor, quase fielmente retratada.
No lance do gol de empate da Alemanha em 2 a 2, marcado por Rahn aos 18 minutos do primeiro tempo, Fritz Walter cobrou dois escanteios seguidos da esquerda. No segundo, o goleiro Grosics saiu do gol para socar a bola, mas o alemão Schäfer saltou junto com ele, na pequena área, e, com o braço estendido, impediu Grosics de chegar na bola. Atrás dos dois, Rahn chutou de primeira e fez o gol. Essa cena, na reconstituição apresentada em O Milagre de Berna, foi estrategicamente editada. E o gol aparece como se tivesse sido marcado de uma forma legal. Milagrosamente legal.
Jornalista e pesquisador, Celso é professor de jornalismo e comentarista do canal ESPN Brasil, no qual participa do programa “Loucos por Futebol”. Também colabora com especiais para as revistas Placar e Quatro Rodas. Celso escreve semanalmente para o Yahoo! Esportes. Contato: celsounzelte@yahoo.com.br
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